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GRÉCIA ANTIGA


A importância de se conhecer a Grécia da Antigüidade (que se desenvolveu entre 2000 a.C. e 500 a.C.) é que a herança de sua cultura atravessou os séculos, chegando até os nossos dias. Foram influências no campo da filosofia, das artes plásticas, da arquitetura, do teatro, enfim, de muitas idéias e conceitos que deram origem às atuais ciências humanas, exatas e biológicas.

No entanto, não podemos confundir a Antigüidade grega com o país Grécia que existe hoje. Os gregos atuais não são descendentes diretos desses povos que começaram a se organizar a mais de quatro mil anos atrás. Muita coisa se passou entre um período e outro e aqueles gregos antigos perderam-se na mistura com outros povos. Depois, a Grécia antiga não formava uma nação única, mas era composta de várias cidades, que tinham suas próprias organizações sociais, políticas e econômicas.

Apesar dessas diferenças, os gregos tinham uma só língua, que, mesmo com seus dialetos, podia ser entendida pelos povos das várias regiões que formavam a Grécia. Esses povos tinham também a mesma crença religiosa e compartilhavam diversos valores culturais. Assim, os festivais de teatro e os campeonatos esportivos, por exemplo, conseguiam reunir pessoas de diferentes lugares da Hélade, como se chama o conjunto dos diversos povos gregos.

Cidades-Estados

Essa Grécia de 4.000 anos atrás era formada por ilhas, uma península e parte do continente europeu. Compunha-se de várias cidades, com seus Estados próprios, que eram chamadas de cidades-Estados. Essas cidades localizavam-se ao sul da Europa, nas ilhas entre os mares Egeu e Jônio. Algumas das cidades gregas de maior destaque na Antigüidade foram Atenas, Esparta, Corinto e Tebas.

Essas cidades comercializavam e ao mesmo tempo guerreavam entre si. As guerras eram motivadas pelo controle da região e para se conseguir escravos, os prisioneiros de guerra, que moviam grande parte da economia daquelas sociedades.

Afora os escravos e os pequenos proprietários, havia os cidadãos propriamente ditos, naturais da cidade e proprietários de terras, que tinham direitos políticos e podiam se dedicar a atividades artísticas, intelectuais, guerreiras e esportivas. Isso indica que as pessoas com mais prestígio e propriedade cuidavam exclusivamente do aprimoramento do corpo e da mente. Os mais pobres e os escravos eram quem movimentava a economia, fazendo o trabalho braçal, considerado, então, como algo desprezível.

Influência de Creta, Egito e Fenícia

Esses diversos povos gregos organizaram-se e ganharam força por volta do ano 2.000 a.C. A cultura grega tornou-se tão importante porque foi a síntese, o resumo, de diversas outras culturas da Antigüidade, dos povos que viveram na África e no Oriente Médio. Assim, os gregos conheceram os cretenses, que eram excelentes navegadores. Tiveram contato com os egípcios, famosos nos nossos dias pelo complexo domínio de conhecimentos técnicos que possuíam e por sua organização social.

Por fim, a influência dos fenícios também foi muito importante na cultura grega. Os fenícios foram o povo, naquela parte do planeta, que havia inventado o alfabeto cerca de 1.000 anos a.C. Esse alfabeto foi aperfeiçoado pelos gregos, que por sua vez deu origem ao alfabeto latino, inventado pelos romanos. Como se sabe, a língua portuguesa, que nós falamos, tem origem latina.

Todo esse processo demonstra como ocorreram freqüentes intercâmbios entre os povos ao longo da história da humanidade, embora muitos conhecimentos e invenções tenham se perdido ou deixado de fazer sentido quando essas civilizações desapareceram.

Sociedade espartana

As cidades-Estados sobre as quais sobreviveram mais informações são Atenas e Esparta. Essas sociedades eram, aliás, bem diferentes e freqüentemente lutaram uma contra a outra. A sociedade espartana era considerada rígida (nos dias de hoje, quando queremos dizer que alguma coisa ou pessoa é muito cheia de regras, fechada, dizemos que é "espartana"). Em Esparta, os homens viviam para a vida militar.

Eles só podiam casar depois de terem sido educados pelo Estado, em acampamentos coletivos, onde viviam dos 12 até os 30 anos. Para o governo, existiam os conselhos de velhos, que controlavam a sociedade e definiam as leis. As mulheres espartanas cuidavam da casa e tinham também uma vida pública: administravam o comércio na ausência dos homens.

Atenas e a democracia

Já Atenas, que foi considerada o exemplo mais refinado da cultura grega, teve seu apogeu cultural e político no século 5 a.C. Na sociedade ateniense, diferentemente de Esparta, as decisões políticas não estava nas mãos de um conselho, mas sim no governo da maioria, a democracia. Dentro desse sistema, todos os cidadãos podiam representar a si mesmos (não precisavam eleger ninguém) e decidir os destinos da cidade. Ao mesmo tempo em que Atenas abria o espaço para os cidadãos, reservava menor espaço para as mulheres do que na sociedade espartana. Em Atenas, as mulheres, assim como os escravos, não eram consideradas cidadãs.

Os jogos olímpicos

De tempos em tempos, as civilizações que surgiram após os gregos - inclusive a nossa - voltam seus olhos para essa cultura tão antiga, chegando mesmo a retomar alguns de seus costumes. Assim aconteceu, por exemplo, com os Jogos Olímpicos. Essa atividade ganhou importância no mundo ocidental na primeira metade do século 20, como uma forma de celebrar pacificamente a rivalidade entre os países que se confrontaram em duas Guerras Mundiais. Na verdade, as Olimpíadas foram reinventadas no final do século 19, ou seja, mais de 2.000 anos depois de terem sido extintas.

Na Grécia Antiga, os jogos olímpicos eram um ritual de homenagem a Zeus (o deus máximo de uma religião com muitos deuses). Esses jogos realizavam-se na cidade de Olímpia e envolviam todas as cidades-Estados da Hélade em várias competições de atletismo. Dentre as modalidades de esporte que se praticavam havia a corrida, a luta livre, o arremesso de discos, salto e lançamento de dardos. Os vencedores voltavam às suas cidades com uma coroa de folhas de oliveira e um imenso prestígio.

Os macedônios e a cultura helenística

No entanto, após o esplendor de Atenas no século 5 a.C., as cidades-Estados gregas foram perdendo seu poder e acabaram conquistadas e unificadas pelos macedônios, no século 4 a. C. Sob o domínio de Alexandre, o Grande, a cultura grega se expandiu territorialmente, indo do Egito à Índia, num processo em que simultaneamente influenciava e sofria influências. Essa cultura que correu mundo, tendo como raiz a tradição grega, foi chamada de cultura helenística.

Por fim, no século 1 a.C., foi a vez dos romanos chegarem à Grécia antiga, conquistando-a. Ainda que Roma tenha incorporado a maior parte dos valores gregos, inaugurando a cultura greco-romana, os povos gregos da Antigüidade não conseguiram mais obter sua autonomia política e assim foram, ao longo dos séculos, desaparecendo.










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GRANDES NAVEGAÇÕES

A expansão ultramarina Européia deu início ao processo da Revolução Comercial, que caracterizou os séculos XV, XVI e XVII. Através das Grandes Navegações, pela primeira vez na história, o mundo seria totalmente interligado. Somente então é possível falar-se em uma história em escala mundial. A Revolução Comercial, graças a acumulação primitiva de Capital que propiciou, preparou o começo da Revolução Industrial a partir da segunda metade do século XVIII. Apenas os Estados efetivamente centralizados tinham condições de levar adiante tal empreendimento, dada a necessidade de um grande investimento e principalmente de uma figura que atuasse como coordenador – no caso, o Rei. Além de formar um acúmulo prévio de capitais, pela cobrança direta de impostos, o rei disciplinava os investimentos da burguesia, canalizando-os para esse grande empreendimento de caráter estatal, ou seja, do Estado, que se tornou um instrumento de riqueza e poder para as monarquias absolutas.


FATORES QUE PROVOCARAM A EXPANSÃO

- Centralização Política: Estado Centralizado reuniu riquezas para financiar a navegação;
- O Renascimento: Permitiu o surgimento de novas idéias e uma evolução técnica;
- Objetivo da Elite da Europa Ocidental em romper o monopólio Árabe-Italiano sobre as mercadorias orientais;
- A busca de terras e novas minas (ouro e prata) com o objetivo de superar a crise do século XIV;
- Expandir a fé;

OBJETIVOS DA EXPANSÃO

- Metais;
- Mercados;
- Especiarias (Noz Moscada, Cravo...)
- Terras;
- Fiéis;

PIONEIRISMO PORTUGUÊS

- Precoce centralização Política;
- Domínio das Técnicas de Navegação (Escola de Sagres) *
- Participação da Rota de Comércio que ligava o mediterrâneo ao norte da Europa;
- Capital (financiamento de Flandres);
- Posição Geográfica Favorável;

ESCOLA DE SAGRES – Centro de Estudos Náuticos, fundado pelo infante Dom Henrique, o qual manteve até a sua morte, em 1460, o monopólio régio do ultramar. O "Príncipe perfeito" Dom João II (1481-1495) continuou o aperfeiçoamento dos estudos náuticos com o auxílio da sua provável Junta de Cartógrafos, que teria elaborado em detalhe o plano de pesquisa do caminho marítimo para as índias.

EXPANSÃO ESPANHOLA

Tão logo completou a sua centralização monárquica, em 1492, a Espanha inicia as Grandes Navegações Marítimas. Os Reis Católicos (Fernando e Isabel) cederam ao navegador Cristóvão Colombo três caravelas. Com elas, Colombo pretendia chegar às Índias, navegando na direção do oeste. Ao aportar nas Antilhas, ele chega em Cuba, El Salvador e Santo Domingo acreditando ter chegado ao arquipélago do Japão. Com a entrada da Espanha no ciclo das grandes navegações, criou-se uma polêmica entre esta nação e Portugal, pela posse das terras recém-descobertas da América. Essa questão passa pelo Papa, que escreve a Bula "Inter Colétera" (as terras da América seriam dividas por uma linha a 100 léguas das Ilhas de Cabo Verde, em que Portugal ficaria com as terras orientais e a Espanha ficaria com as terras ocidentais). Portugal fica insatisfeito, recorre ao Papa -> Tratado de Tordesilhas. (Foto)


As viagens ibéricas prosseguiram até que a descoberta de ouro na América, pelos espanhóis, aguçou a cobiça de outras nações européias que procuravam completar seu processo de centralização monárquica. Passam a contestar o Tratado de Tordesilhas, ao mesmo tempo em que tentavam abrir novas rotas para a Ásia, através do Hemisfério Norte, e se utilizavam da prática da Pirataria. Afirmavam ainda que a posse da terra descoberta só se concretizava quando a nação reivindicasse a ocupasse efetivamente, o princípio do "Uti Possidetis" (usucapião). França foi uma das mais utilizarias desse pretexto.


EXPANSÃO NO SÉCULO XVI - Após a crise do século XVI, a economia européia sofreu transformações essenciais, na medida em que as riquezas exteriores, adquiridas na expansão marítima, não só ampliou o grande comércio, como também elevou o nível científico. Foram intensificados os estudos para desenvolver a bússola, novos modelos de embarcações (caravelas, nau), o astrolábio, portulanos (livrinho que continha a observação detalhada de uma região, feita por um piloto que estivera lá antes) e cartas de navegação. Esses novos conhecimentos, aliados a nova visão do mundo e do homem, preconizada pelo Renascimento, ampliaram os horizontes europeus, facilitando o pleno desenvolvimento da expansão ultramarina. Essa expansão foi a responsável pelo surgimento de um mercado mundial, baseado no capital gerado pelas atividades comerciais, que afetou todo o sistema produtivo e favoreceu a consolidação do Estado Nacional. No século XVI, as nações pioneiras (Portugal e Espanha) prosseguiram suas viagens conquistando territórios na América, África e Ásia. Inglaterra e França procuravam romper tal domínio na tentativa de conseguir mercados e áreas de exploração.


Embarcações: A caravela possuía um casco estreito e fundo, com isto ela possuía uma grande estabilidade, por baixo do convés havia um espaço que servia para transportar os mantimentos, o castelo que era os aposentos do capitão e do escrivão se localizava na popa do navio, porém a grande novidade deste navio foi a utilização das velas triangulares em mar aberto, as quais permitiam que a caravela avançasse em zig-zag mesmo com ventos contrários, as caravelas não possuíam os mesmos tamanhos, as pequenas levavam entre vinte e cinco a trinta homens e as maiores chegavam a levar mais de cem homens a bordo, geralmente a tripulação era formada por marinheiros muitos jovens, os capitães podiam ser rapazes de vinte anos de idade eles eram o chefe máximo, que tinham a competência de organizar a vida a bordo e tomar as decisões sobre as viagens, o escrivão tinha a competência de registrar por escrito o rol da carga.


O piloto encarregava-se da orientação do navio, geralmente viajava na popa do navio com os seguintes instrumentos, uma bússola, um astrolábio e um quadrante, ele orientava aos homens do leme que manejavam o navio de acordo com as instruções do piloto e do capitão e em dia de mar revolto era necessário dois homens ao leme do navio, o homem da ampulheta era o marinheiro que vigiava o relógio de areia para saberem as horas, os marinheiros a bordo das caravelas tinham que fazer todos os tipos de serviços, desde içar, manobrar e recolher as velas, esfregar o convés, carregar e descarregar a carga e outras fainas a bordo, os grumetes eram constituídos em sua maioria por rapazes de dez anos de idade que iam a bordo para aprender e fazer as rotinas das viagens. A construção das caravelas era executada a beira do Tejo na Ribeira das Naus junto ao Palácio Real, onde trabalhavam os mestres de carpinteiros os quais não se serviam de planos, nem de desenhos técnicos.


MERCANTILISMO - Conjunto de medidas econômicas adotadas pelos Estados Nacionais modernos no período de Transição (Feudalismo p/ Capitalismo), tendo os Reis e o Estado, o poder de intervir ma economia. Esse sistema buscava atender os setores feudais visando conseguir riquezas para a sua manutenção. O mercantilismo não é um modo de produção, mas sim um conjunto de práticas de produção. Não existe uma sociedade Mercantilista. Tais medidas variavam de Estado para Estado, logo, não existiu apenas um mercantilismo. Não se pode generalizá-lo.


PRINCÍPIOS: (Variavam de Estado para Estado)


- Metalismo ou Bullionismo;
- Balança Comercial Favorável (Vender mais e comprar menos -> visando garantir o acúmulo de ouro e prata);
- Protecionismo Alfandegário (grandes tarifas aos produtos estrangeiros);
- Construção Naval (frota Mercante e Marinha de Guerra);
- Manufaturas;
- Monopólio (Rei vende monopólio para as Companhias de Comércio nas cidades);
- Sistema Colonial (Pacto Colonial, Latifúndio, Escravismo);
- Intervenção do Estado na Economia;

POLÍTICA DOS ESTADOS

-Espanha – Bullionismo (metais)
-Holanda – Comercialismo
-França – Colbertismo (Manufaturas de luxo)
-Inglaterra – Comercialismo

COLÔNIAS DE EXPLORAÇÃO: As colônias de exploração atendiam as necessidades do sistema mercantilista garantindo, através de uma economia complementar e do pacto colonial, lucros para a metrópole. Nesse tipo de colonização, não havia o respeito devido pelo povo ou pela terra.


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IMPERIALISMO

Depois de 1870, o capitalismo à antiga passou a ser o capitalismo moderno, O capitalismo da livre concorrência tornou-se o capitalismo dos monopólios. Essa modificação foi de tremenda importância.

A indústria em grande escala e monopolista trouxe um desenvolvimento das forças produtivas muito maior do que antes. A capacidade industrial de produzir mercadorias cresceu num índice muito mais rápido do que a capacidade de consumo dos habitantes do país. (Isso significava, naturalmente, o consumo com lucro — o povo pode sempre usar mais mercadorias, mas nem sempre pode pagar por elas.)

Os monopolistas estavam na situação interna de regular a oferta para estabelecer a procura, e foi o que fizeram. Era uma prática comercial inteligente, que lhes proporcionou altos lucros. Mas deixava uma boa parte da capacidade produtiva de suas fábricas parada, e essa situação tende sempre a dar aos capitães da indústria uma dor de cabeça. Não queriam fazer apenas mercadorias para vender internamente. Queriam usar suas fábricas permanentemente para produzir o máximo de mercadorias. Para tanto, tinham de vendê-las fora do país. Tinham de encontrar mercados estrangeiros que absorvessem os excedentes de suas indústrias.

Onde encontrá-los? Podiam tentar despejar suas mercadorias noutras nações ricas, como a Inglaterra fizera durante anos. Mas as altas tarifas protetoras aumentavam cada vez mais, e atrás delas os concorrentes haviam podido controlar o mercado dos respectivos países. Vejamos essa queixa de Jules Ferry, primeiro-ministro francês em 1885: “O que falta às nossas indústrias, o que lhes falta cada vez mais, são mercados. Por que? Porque... ...a Alemanha se está protegendo com barreiras; porque, além do oceano, os Estados Unidos da América se tornaram protecionistas, e a um grau extremo.” 306

Nações como a Alemanha e os Estados Unidos já não eram um mercado livre, para as mercadorias de outros países — elas mesmas estavam concorrendo em busca dos mercados mundiais. A situação era séria. Dentro das grandes indústrias, a capacidade de produzir superava a capacidade de consumir. Todas tinham um excedente de mercadorias manufaturadas, para as quais necessitavam encontrar mercados externos.

Onde encontrá-los?

Havia uma resposta — colônias.

Estamos tão acostumados a ver o mapa da África colorido em vários tons, para mostrar a propriedade dos diferentes países europeus, que facilmente nos esquecemos de que nem sempre foi assim. Há praticamente 70 anos toda a África pertencia aos que nela habitavam. Foi na era do capitalismo monopolista que os excedentes industriais se apresentaram como um problema aos capitães da Indústria, em toda parte. Julgaram ter encontrado a resposta do problema nas colônias. E foi então que o mapa da África sofreu modificações.

David Livingstone, famoso missionário-explorador, perdeuse no coração da África. Gordon Bennett, o dono do New York Herald, mandou Henry Morton Stanley à África para encontrá-lo. Que missão! E, milagre dos milagres, Stanley teve êxito. Não só encontrou Livingstone, como também fez novas explorações. Pronunciou, mais tarde, uma série de conferências sobre suas explorações. Podemos ter a certeza de que interessou ao seu público. Podemos ter certeza, também, de que os mais atentos foram os negociantes de algodão de Manchester e os fabricantes de ferro de Birmingham que o ouviram dizer: “Há 40 milhões de pessoas atrás do portão de entrada do Congo, e os industriais têxteis de Manchester esperam para vesti-las. As fundições de Birmingham luzem com o metal vermelho que será transformado em artigos de ferro para eles, e adornos para seus peitos; os ministros de Cristo estão ansiosos para trazê-los, pobres pagãos ingênuos, ao seio do cristianismo.” 307

Stanley sugeria aos preocupados capitães da indústria uma saída ao dilema do que fazer com o excedente de suas manufaturas. As colônias — esta era a resposta.

Os capitães da indústria de outros países descobriram a mesma resposta para seu problema, na mesma época. Depois de 1870, a Inglaterra, França, Bélgica, Itália e Alemanha se uniram numa busca de colônias como mercado para produtos excedentes. A vez da América chegaria em 1898. Naquele ano, o senador republicano Albert J. Beveridge disse a um grupo de lideres comerciais de Boston: “As fábricas americanas estão produzindo mais do que o povo americano pode usar; o solo americano está produzindo mais do que o povo pode consumir. O destino escolheu para nós a política a adotar; o comércio do mundo deve ser, e será, nosso. E o conseguiremos, pois nossa mãe (Inglaterra) nos disse como. Estabeleceremos postos comerciais em todo o mundo, como pontos de distribuição dos produtos americanos. Cobriremos o oceano com nossa marinha mercante. Construiremos uma marinha na medida de nossa grandeza. Grandes colônias, governando a si mesmas, usando nossa bandeira e comerciando conosco, crescerão em torno de nossos postos comerciais.” 308

Além de constituírem um mercado para os artigos excedentes, as colônias poderiam ter outra utilidade. A produção em grande escala necessita de grande suprimento de matérias-primas. Borracha, petróleo, nitratos, açúcar, algodão, alimentos tropicais, minerais — essas, e muitas outras, eram as matérias-primas necessárias ao capitalista do monopólio, em toda parte. Os donos das indústrias não queriam depender de outros países para as matérias-primas que lhes eram essenciais. Desejavam controlar ou possuir as fontes dessas matérias-primas. Uma das últimas aventuras imperialistas, a da Itália na Etiópia, teve isso como causa, segundo o New York Times: de 8 de agosto de 1935:

ITÁLIA PLANTARÁ ALGODÃO NA ETIÓPIA

Acredita que as colheitas desse produto

e do café bastarão para seu consumo interno

Citam-se Grandes Importações

ROMA, 7 de agosto — As principais esperanças de lucro que a Itália tem na Etiópia baseiam-se no desenvolvimento de produtos que podem afetar seu comércio com a América do Norte e do Sul — algodão e café.

Quaisquer que sejam as esperanças de ouro, minério de ferro, platina, cobre e outros minérios, a Itália tem razões para acreditar que o algodão e o café compensarão os bilhões de liras que gastou na África Oriental.

As importações de algodão italianas são em média de 740 milhões de liras anuais, pagas principal mente aos Estados Unidos e as de café são de cerca de 185 milhões — um total de cerca de um bilhão de liras, representando 13.5% das importações totais do país.

Portanto, o desejo de controlar as fontes de matérias-primas foi um segundo fator do imperialismo. O primeiro sabe o leitor foi a necessidade de encontrar mercado para os artigos excedentes. Havia outro excedente, também buscando um mercado adequado, e que constituiu a terceira e talvez mais importante causa do imperialismo. Foi o excesso de capital.

A indústria monopolista trouxe grandes lucros a seus donos. Superlucros. Mais dinheiro do que eles poderiam usar. Parece incrível, mas em certos casos os lucros foram tão grandes que os organizadores de trustes não poderiam gastá-los todos, mesmo que tentassem.

Não tentaram. Economizaram o dinheiro — e o mesmo fizeram outros milhões de pequenos poupadores, que colocavam seu dinheiro em bancos, companhias de seguro, empresas de investimentos etc. O resultado foi uma superacumulação de capital.

Isso parece engraçado. Como é possível haver dinheiro demais? Não haveria outras formas para a utilização do capital? Certamente era preciso construir estradas, levantar hospitais, havia favelas a derrubar para em seu lugar construir casas decentes. Certamente havia mil e uma coisas a fazer com o dinheiro, não?

Havia. As áreas rurais precisavam de melhores estradas, os trabalhadores precisavam de casas decentes e os pequenos negócios queriam expandir-se; mesmo assim, os economistas falam de capital “excedente”. E não há dúvida disso — milhões de dólares (e francos, libras e marcos) estavam sendo exportados para outras terras.

Por que?

Porque o capital não pergunta: “O que é preciso fazer?” Nada disso. Pergunta: “Quanto posso conseguir pelo meu dinheiro?” A resposta a essa segunda pergunta determina onde será investido o excedente. Lênin, discípulo de Marx e líder da Revolução Russa, explicou isso em seu livro Imperialismo, escrito em 1916: “Não é preciso dizer que se o capitalismo pudesse desenvolver a agricultura, que hoje está atrasada em relação à indústria, em toda parte, se pudesse elevar o padrão de vida das massas... ...não seria possível falar em excedente de capital... ...Mas então o capitalismo não seria capitalismo... ...Enquanto o capitalismo continuar capitalismo, o capital excedente não será usado com o objetivo de elevar o padrão de vida das massas, pois isso significaria uma queda nos lucros dos capitalistas: ao invés disso, será usado para aumentar os lucros pela exportação do capital para o exterior, para os países atrasados. Nesses, os lucros são habitualmente altos, pois o capital é escasso, o preço da terra é relativamente baixo, os salários são baixos e a matéria-prima é barata.” 309

Foi o que aconteceu. O capital excedente, que precisava de um escoadouro, encontrou-o nos países atrasados — as colônias. Países que necessitavam de estradas de ferro, eletricidade, gás, rodovias etc., países ricos de recursos naturais, onde “concessões” de minas e plantações eram conseguidas — foi nessas áreas coloniais que o capital excedente encontrou oportunidades para investimento lucrativo.

Mas isso não é tudo. Além dos lucros obtidos diretamente com o investimento, os empréstimos eram feitos de tal maneira que grande parte deles tinha de ser gasta na metrópole. Assim, quando a Inglaterra fez empréstimos à Argentina para a construção de ferrovias, a maioria dos trilhos, material rolante etc., foi comprada na Inglaterra — com lucro para os fabricantes ingleses. A exportação do capital excedente trouxe, nesse caso, também, lucro para os industriais ingleses. A exportação do capital excedente levou à exportação de mercadorias excedentes, também. Assim, tanto o investidor como o industrial verificaram ser de seu interesse colaborar na política de controlar ou tomar áreas coloniais. Este foi um dos aspectos da aliança entre a finança e a indústria que caracteriza a moderna sociedade econômica a tal ponto que tem sido chamada de idade do capital financeiro. Isso significa que as finanças — o controle de vastas somas de capital mais a indústria, que utiliza esse capital com objetivos de lucro — constituem a força dominante do mundo de hoje.

A aliança da indústria e da finança em busca de lucros nos mercados para produtos e capital foi a mota principal do imperialismo. Disse J. A. Hobson, em 1902, ao publicar seu estudo pioneiro sobre o assunto: “O imperialismo é a tentativa dos grandes controladores da indústria de ampliar o canal para o fluxo de sua riqueza excedente, procurando mercados estrangeiros e investimentos estrangeiros que consumam as mercadorias e o capital que não podem vender ou empregar internamente.” 310

Esse é o porquê do imperialismo. Como os controladores da indústria “ampliam o canal para o fluxo de sua riqueza excedente” é outra história que o leitor provavelmente conhece. Tem havido muitas formas — os últimos exemplos foram os da “missão civilizadora” da Itália na Abissínia, ou a “penetração” do Japão na China. Antigamente, no último quartel do século XIX, particularmente na África, o processo era mais simples. “Em quase todos os casos, os primeiros passos no sentido da divisão e incorporação do território africano aos Estados europeus eram dados pelos homens de negócios ou companhias capitalistas, trabalhando em cooperação com exploradores ou com agentes próprios, O processo habitual era o explorador ou agente penetrar no interior, a alguma distância da costa, e induzir os chefes ou reis, com ofertas de roupas ou álcool, a assinar os chamados tratados com as sociedades anônimas. Segundo esses tratados, os chefes africanos, cuja assinatura consistia de uma cruz, cediam todo o seu território às sociedades anônimas em troca de alguns metros de fazenda ou alguma garrafa de gim. Quase todas as possessões da África central cedidas aos Estados europeus têm por base esses acordos Em menos de 20 anos, toda a África Central foi dividida e incorporada aos Impérios da Grã-Bretanha, França, Alemanha, Bélgica, Portugal e Itália.” 311

Por vezes, esses astutos exploradores — comerciantes — capitalistas julgavam honestamente que, roubando o país de seus habitantes, estavam realizando uma missão divina, para o bem dos nativos. Cecil Rhodes, um dos maiores construtores de impérios, assim pensava. Pelo menos, era o que dizia: “Sustento que somos a primeira raça no mundo, e quanto mais do mundo habitarmos, tanto melhor será para a raça humana... Se houver um Deus, creio que Ele gostaria que eu pintasse o mapa da África com as cores britânicas.” 312

Os nativos dos territórios conquistados eram, freqüentemente, bem peculiares. Pareciam não compreender que os atos do homem branco eram para o seu bem. Ficavam confusos com o que um grupo de homens brancos — os missionários — lhes pregava, e com o que outro grupo — os capitalistas — lhes fazia. Por vezes, em sua ignorância se revoltavam, e então, infelizmente, era necessário dar-lhes uma lição. Dentro em pouco grandes navios brilhantes da metrópole penetravam em seus portos. Vinham cheios de soldados com fuzis, bombas e metralhadoras — as armas da civilização — e a lição era dada.

E com o auxílio da força militar do governo metropolitano. Os governos, sempre prontos a “proteger as vidas e propriedades” de seus súditos, ajudavam também de outros modos. Assim, por exemplo, para ajudar no custo da administração, da construção de hospitais, escolas, estradas etc., para a colônia, o governo instituía um imposto que os nativos tinham de pagar em dinheiro. Ora, os nativos não tinham dinheiro. Mas havia uma solução — poderiam ganhá-lo trabalhando nas plantações ou nas minas dos proprietários brancos. É certo que os salários eram miseravelmente baixos; era certo, também, que os nativos se podiam alimentar sem trabalhar nas minas ou plantações. Mas o imposto tinha de ser pago — o que significava que tinham de trabalhar. O que aconteceria se não pagassem? Um observador das condições nas colônias francesas da África Ocidental, em 1935, conta-nos qual o remédio para o não-pagamento: “Uma aldeia do Sul do Sudão não pôde pagar os impostos; mandaram para lá guardas nativos, que levaram todas as mulheres e crianças da aldeia, colocaram-nas num campo no centro, queimaram as palhoças, e disseram aos homens que só teriam suas famílias de volta quando pagassem os impostos.” 313

É impossível falar de modo geral do tratamento dado aos povos coloniais, porque ele variava segundo o momento e o lugar. Mas as atrocidades foram generalizadas — nenhuma nação imperialista tinha mãos limpas. Leonard Woolf, conhecido estudioso do assunto, escreveu: “Tal como nas sociedades nacionais na Europa surgiram no último século classes claramente definidas, capitalistas e trabalhadores, exploradores e explorados, também na sociedade internacional surgiram classes claramente definidas, as potências imperialistas do Ocidente e as raças escravas da África e do Oriente, umas governando e explorando, outras governadas e exploradas.” 314

Compreenda o leitor — o país não precisa tornar-se colônia para ser “governado e explorado”. Quando os países atrasados não eram imperializados diretamente, eram levados para as “esferas de influência” — como por exemplo a China na qual todas as grandes potências tinham interesses reconhecidos. Ou a América do Sul, que foi mais ou menos dividida entre a Inglaterra e os Estados Unidos. Esses dois países, sem dominarem abertamente qualquer república sul-americana, estavam sempre prontos a fornecer-lhes capital, usando-os como instrumentos para obter certos direitos lucrativos, por tratados, ou pelas concessões formais. E nesses casos deixava-se sempre bem claro que havia cruzadores, aviões e batalhões prontos a impor a execução da concessão, ou o comércio monopolista exclusivo.

Não foi por acaso que os governos correram em auxílio de seus industriais e banqueiros em sua busca de mercados para produtos e capitais. Um observador das questões britânicas em 1921 julgou isso inevitável. ‘O comércio britânico no momento, no outono de 1921, está sob o controle de grandes grupos, governados e dirigidos pelos grandes trustes bancários, e do dinheiro cujo poder é tão grande que lhes dá, em todos os casos, controle das alavancas que põem em movimento o comércio. Mais do que isso, seu poder de aconselhar o Governo é tal que... ... o Governo (composto como é hoje das classes endinheiradas) não pode agir senão com a concordância dos trustes do dinheiro” 315

Isso, na Inglaterra. Para o Presidente Taft, nos Estados Unidos, o caminho da justiça era realmente reto, mas não era estreito — havia nele espaço para a intervenção em defesa de “nossos capitalistas”: “Embora a nossa política externa não se deva afastar nem um milímetro do caminho reto da justiça, ela bem pode incluir a intervenção ativa para assegurar à nossa mercadoria e aos nossos capitalistas a oportunidade de investimento lucrativo.” 316

Uma vez empenhados numa intervenção em defesa de “nossos capitalistas”, os governos se viram a braços com uma longa jornada. O capital, como o homem do trapézio volante, “flutua no ar com a maior facilidade” não sendo fácil acompanhá-lo para garantir sua segurança. O General Smedley D. Butler recebeu parte dessa tarefa. A descrição que dela faz é interessante — discorda do Presidente Taft quanto à possibilidade de se conservar na trilha da justiça e ao mesmo tempo intervir a favor dos Grandes Negócios: “Passei 33 anos e 4 meses no serviço ativo, como membro da mais ágil força militar do meu País — o Corpo de Fuzileiros Navais. Servi em todos os postos, desde segundo-tenente a general. E, durante tal período, passei a maior parte de meu tempo como guarda-costas de alta classe, para os homens de negócios, para Wall Street e para os banqueiros. Em resumo, fui um quadrilheiro para o capitalismo...

“Foi assim que ajudei a transformar o México, especialmente Tampico, em lugar seguro para os interesses petrolíferos americanos, em 1914. Ajudei a fazer de Cuba e Haiti lugares decentes para que os rapazes do National City Bank pudessem recolher os lucros... ...Ajudei a purificar a Nicarágua para os interesses de uma casa bancária internacional dos Irmãos Brown, em 1909-1912. Trouxe a luz à Republica Dominicana para os interesses açucareiros norte-americanos em 1916. Ajudei a fazer de Honduras um lugar ‘adequado’ às companhias frutíferas americanas, em 1903. Na China, em 1937, ajudei a fazer com que a Standard Oil continuasse a agir sem ser molestada.

“Durante todos esses anos eu tinha, como diriam os rapazes do gatilho, uma boa quadrilha. Fui recompensado com honrarias, medalhas, promoções, Voltando os olhos ao passado, acho que poderia dar a Al Capone algumas sugestões. O melhor que ele podia fazer era operar em três distritos urbanos. Nós, os fuzileiros, operávamos em três continentes.” 317

Podemos deduzir pelas experiências do General Butier que o imperialismo, iniciado em fins do século X continua vivo. E de forma intensificada. É fácil, porque assim é. O monopólio na indústria não está desaparecendo. Está aumentando. E com ele, como já vimos, cresce o imperialismo.

Num estudo esclarecedor da Modern Corporation and Private Property feito por dois entendidos no assunto, encontramos alguns fatos e dados surpreendentes sobre o tamanho, riqueza e controle das modernas companhias gigantes da América de hoje. Há nos Estados Unidos cerca de 300.000 empresas não-bancárias. Mas, desse número, cerca de 200 controlam metade da riqueza das sociedades anônimas! Dessas 200, apenas 15 têm ativos superiores a um bilhão de dólares cada. E uma delas, a American Telephone and Telegraph Company, “controla maior riqueza do que a existente dentro das fronteiras de 21 dos Estados do país”. 318

Mas talvez a melhor forma de compreender até que ponto dominam os monopólios seja ver o que dizem os autores do estudo acima mencionado sobre o modo pelo qual nossa vida diária é afetada permanentemente por algumas das 200 companhias maiores. “Essas grandes companhias formam a estrutura mesma da indústria americana. As pessoas têm de entrar em contacto com elas quase constantemente... ...estão continuamente aceitando seus serviços. Se viajamos qualquer distância, quase que certamente o faremos por uma das grandes ferrovias. A máquina que puxa o trem provavelmente terá sido construída pela American Locomotive Cornpany ou pela Baldwin Laco- motive Works; o carro em que nos sentamos deve ter sido feito pela American Car and Foundry Company ou uma de suas subsidiárias... ...Os trilhos quase certamente terão sido fornecidos por uma das 11 companhias de aço da lista; e o carvão bem pode ter vindo de uma das 4 companhias, quando não de uma mina de propriedade da própria estrada de ferro. Talvez a pessoa prefira viajar de automóvel — num carro fabricado pela Ford, General Motors, Studebaker ou Chrysler com pneus fornecidos pela Firestone, Goodrich, Goodyear ou United States Rubber Company...

“Ou, por outro lado, talvez fique em casa, em relativo isolamento e intimidade. Que significam para ela as 200 maiores companhias, então? Seu gás e eletricidade quase certamente serão fornecidos por uma delas; o alumínio de seus utensílios de cozinha será da Aluminum Company of America. O refrigerador elétrico pode ser produto da General Motors Company, ou de uma das suas grandes companhias de equipamentos elétricos, a General Electric e a Westinghouse Electric. É possível que a Crane Company tenha fornecido os encanamentos, a American Radiator and Standard Sanitary Corporation o equipamento de calefação; provavelmente comprará pelo menos parte de seus comestíveis na Great Atlantic and Pacific Tea Company... ...E alguns dos produtos farmacêuticos que usa vem, direta ou indiretamente, da United Drug Company. As latas de seus comestíveis poderão ter sido feitas pela American Can Company; o açúcar pode ter sido refinado por uma das grandes companhias, a carne provavelmente terá sido preparada pela Swift, Arniour ou Wilson, e os biscoitos pela National Biscuit Company...

“Se procurar distração no rádio, quase necessariamente terá de usar um aparelho fabricado com permissão da Radio Corporation of America. Se for a um cinema, provavelmente verá um filme da Paramount, Fox, ou Warner Brothers (feito em filme Kodak Eastman) num cinema controlado por um desses grupos produtores. Não importa a que tentador anúncio de cigarros sucumba, quase certamente estará fumando uma das muitas marcas das quatro grandes companhias de fumos, e os cigarros serão comprados numa loja de esquina da United Cigar.” 319

Eis — em qualquer coisa, em toda parte — o monopólio. A mesma história é válida para as outras grandes nações industriais do mundo. Ora, o que acontece quando esses vários gigantes, controladores dos respectivos mercados nacionais, se chocam nos mercados internacionais? Fogo! Concorrência — longa, dura, amarga. E em seguida — conversações, associações, cartéis, em base internacional. Os monopólios “capitalistas dividem o mundo não por malícia pessoal, mas porque o grau de concentração a que chegaram os força a adotar esse método a fim de conseguir lucros. E a divisão é feita ‘em proporção ao capital’, ‘em proporção à força’... ...Mas a força varia com o grau de desenvolvimento econômico e político.” 320

Depois que os grupos internacionais dividiram o mercado mundial, pareceria que a competição devesse cessar e tivesse início um período de paz duradoura. Isso não acontece porque as relações de força estão sempre se modificando. Algumas companhias crescem e se tornam mais poderosas, ao passo que outras declinam. Assim, o que em dado momento era uma divisão justa, torna-se injusta mais tarde. Há descontentamento da parte do grupo mais forte, seguindo-se uma luta por uma quota maior. Freqüentemente isso leva à guerra.

O mesmo ocorre no controle político das colônias. Há 70 anos, havia ainda terras livres, não-colonizadas. Hoje, isso não ocorre mais. Para que haja uma nova divisão, os que não tem devem tomar o que ambicionam e — dos que têm. A Alemanha, Itália e Japão desejam colônias hoje. Itália e Japão estão agarrando o que encontram. A Alemanha se está armando — na preparação para agarrar alguma coisa. O imperialismo leva à guerra. *

Mas a guerra não resolve nada de forma permanente. As hostilidades que já não podem ser resolvidas pelas negociações e concessões em torno de uma mesa de conferência não desaparecem quando os argumentos passam a ser os altos explosivos, o gás envenenado, os homens mortos e os cadáveres mutilados. Não. O capitalismo monopolista deve ter seu escoamento de mercadorias e capital excedente, e as hostilidades continuarão enquanto a situação perdurar. A caça de mercados terá de continuar.

Cecil Rhodes, o conhecido imperialista, sentia agudamente esse problema. A aquisição de novos mercados tornou-se parte dele; a anexação de novos territórios era parte de seu sangue. A ambição imperialista se ilustra melhor, talvez, numa declaração por ele feita, certa vez, a um antigo: ‘O mundo está quase todo parcelado, e o que dele resta está sendo dividido, conquistado, colonizado. Pense nas estrelas que vemos à noite, esses vastos mundos que jamais poderemos atingir. Eu anexaria os planetas, se pudesse; penso sempre nisso. Entristece-me vê-los tão claramente, e ao mesmo tempo tão distantes.” 321

Rhodes morreu cedo demais. Que pena! Num laboratório do deserto do Novo México, o Prof. R. H. Goddard realiza experiências com um foguete que talvez vá à Lua; numa montanha de Gales a Sociedade Interplanetária Britânica procura aperfeiçoar um foguete capaz de chegar aos planetas. Se Rhodes estivesse vivo!

Não obstante, talvez sua alma encontre consolo no pensamento de que seu espírito ainda sobrevive, mais forte do que nunca. Quando o Homem da Lua saudar o primeiro passageiro na primeira nave espacial, esse passageiro sem dúvida responderá com uma pergunta murmurada no ouvido de seu anfitrião: “Que tal tomar algum dinheiro emprestado para consertar os canais velhos e construir novos? Assine aqui, e meu banco cuidará dos detalhes... ...Pronto... ...Muito obrigado.”




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